O recente episódio que envolveu a desistência da participante Vanessa Lopes no Big Brother Brasil 24 destacou uma questão que ainda não recebe a devida atenção e compreensão na esfera midiática: a saúde mental. Em meio a falas desconexas e clara confusão mental que já se estendia há dias, a influenciadora digital de 22 anos decidiu abandonar o programa na última sexta-feira (19), despertando questionamentos sobre o quanto ainda precisamos aprender sobre esse tema.
A forma como tudo foi tratado reitera a urgência de discutir a saúde mental de maneira aberta e consciente. O programa já abordou pautas importantes, como racismo, machismo e homofobia, mas, desta vez, a saúde mental de Vanessa foi notavelmente negligenciada, contribuindo para o estigma e a discriminação.
Após a desistência, o apresentador do programa, Tadeu Shmidt, abordou o episódio superficialmente, declarando que o jogo deveria continuar, como se nada tivesse acontecido. Em outra ocasião, num video compartilhado nas redes sociais do BBB, Jojo Todynho, uma das comentaristas do programa, afirmou que a decisão de Vanessa foi “consciente”, o que claramente não foi. Enquanto isso, fora da casa, Vanessa é alvo de comentários maldosos e acusações de estar encenando com a conivência da produção e de sua própria família.
Um dia antes de apertar o botão da desistência, os pais de Vanessa divulgaram vídeos no Instagram garantindo que não havia nada de errado com a filha. A mãe, enquanto se maquiava e fazia propaganda de um cosmético, disse que Vanessa não só estava bem, mas estava “ótima”. No entanto, seu comportamento na casa indicava o contrário.
Em diversos momentos, Vanessa Lopes expressou falas desconexas, agitação, chorava, afirmava que os colegas eram atores que estavam ali para desestabilizá-la e criava teorias mirabolantes, demonstrando sinais de desequilíbrio mental. O estresse provocado pelo confinamento, o convívio com desconhecidos (e também com um dos seus principais desafetos na vida real, Yasmin Brunet), a ausência de contato com o mundo externo, os conflitos do jogo e demais preocupações podem ter sido o gatilho (fator estressante).
O Big Brother Brasil, ao não abordar adequadamente a saúde mental de Vanessa, perdeu uma oportunidade valiosa de educar o público sobre um tema tão relevante, especialmente no mês da campanha Janeiro Branco, dedicada à conscientização sobre saúde mental.
É incompreensível a quantidade de comentários cruéis e ridicularizações direcionadas à Vanessa, ignorando a possibilidade de que ela esteja genuinamente sofrendo. Que o diagnóstico seja feito pelos profissionais da área, que possuem a expertise necessária para compreender a complexidade da situação. E mesmo que, no futuro, se prove que ela estava atuando, o que definitivamente não acredito, dar o benefício da dúvida e não culpabilizar são fundamentais.
Cada vez mais, torna-se urgente conversar sobre saúde mental, fomentando empatia, compreensão e desmistificação. O Big Brother Brasil poderia ter sido um veículo para essa discussão, mas, infelizmente, essa oportunidade foi perdida.
