Ansiedade e depressão são transtornos distintos que podem ocorrer ao mesmo tempo. Não se sabe se é a ansiedade que leva à depressão ou se é a depressão que leva à ansiedade. Percebe-se que a preocupação excessiva do que pode acontecer no futuro, em uma forma de pensar catastrófica, pode ser acompanhada de uma tristeza profunda, uma sensação de incompetência para enfrentar os supostos desastres que virão. Também há o quadro da pessoa que vive triste, se culpando pelo passado, sentindo-se um fracasso e que acaba desenvolvendo ansiedade, por medo de repetir os mesmos erros.
Ansiedade é um estado emocional de apreensão que acomete a pessoa a maior parte do tempo, uma expectativa de que algo ruim aconteça, sem que haja evidências para isso, acompanhado por várias reações físicas (dores no peito, taquicardia, falta de ar, boca seca, vertigem, tremores, sudorese) e mentais (angústia, aflição, incerteza, insegurança, medo) desconfortáveis, que trazem prejuízos em todos os setores da vida. Se o medo é uma emoção adaptativa, que serve para evitar situações de risco, a ansiedade antecipa ameaças onde elas não existem ou exagera os problemas, acometendo a pessoa a maior parte do tempo, que vive em um constante estado de alerta.
A ansiedade manifesta-se por medo e preocupação exagerados em relação a questões sobre saúde, família ou relacionamentos, situação financeira ou de trabalho; sensação de que algo ruim vai acontecer; medo de enfrentar situação difícil, de ser criticado ou humilhado; falta de controle sobre pensamentos ou imagens repetitivos. A ansiedade impede que a pessoa usufrua o presente, pois ela vive constantemente em pânico sobre o futuro.
O diagnóstico da depressão é feito pela avaliação dos sintomas, sua frequência e duração. As queixas mais comuns trazidas são apatia e desinteresse, problemas de relacionamento, sentimentos de culpa e de inutilidade, pensamentos pessimistas, sensação de desesperança e desespero, diminuição da energia e cansaço constante, distúrbios do sono e do apetite, dificuldade de concentração, oscilações bruscas de humor, irritabilidade, perda do interesse sexual, e dores inespecíficas, que não apresentam uma causa física, como cólicas e problemas digestivos. Se não tratada, a depressão pode evoluir para um estado incapacitante, a ponto de a pessoa perder totalmente o interesse pela vida, considerar inútil qualquer tentativa de buscar ajuda para recuperar a motivação de viver e o bem-estar emocional possível a todos.
Se tristeza é coisa que dá e passa, depressão é assunto sério, que pode levar o indivíduo a desacreditar de si mesmo, do que o rodeia e do futuro, fazendo-o perder o interesse pela vida e afastando-o do convívio social, com rompimento dos vínculos afetivos. Ao esperar sempre o pior, a pessoa cai num poço sem fundo de desânimo, não percebe soluções e, ao sucumbir ao desespero, buscando alívio para a dor emocional, pode adotar comportamentos desadaptativos, como compulsão alimentar ou abuso de álcool e drogas. Depressão deve ser diagnosticada e tratada sem perda de tempo.
Na depressão, a pessoa apresenta uma visão negativa de si mesma, do mundo e do futuro, interpreta os acontecimentos da vida de forma que tudo é percebido como dificuldade e sofrimento e se vê como vítima das circunstâncias. Na ansiedade, o indivíduo experimenta preocupação irreal e incontrolável e medo de que aconteça o pior, catastrofizando situações cotidianas.
Sentir medo ou tristeza é normal, e essas emoções só indicam um problema quando duram por muito tempo e em uma grande intensidade, comprometendo a qualidade de vida da pessoa. Ansiedade e depressão prendem a pessoa ao passado e ao futuro, tirando-a do presente, que é o único tempo que existe.
Maria Cristina Ramos Britto
Psicóloga clínica; especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC); formação em terapia do esquema.
CRP: 05/347533
