Aprendi, nos 20 anos de prática psiquiátrica que, guardadas as devidas proporções, tão importante quanto cuidar do paciente é dar atenção às pessoas que o cercam, dirimindo dúvidas e buscando nelas um apoio que será essencial para o melhor resultado do tratamento.
Inúmeras vezes, ouvi de pacientes que me procuravam que não haviam contado sobre esta busca por atendimento a seus cônjuges, companheiros ou, mesmo, familiares. Falta de compreensão da complexidade da mente humana, preconceito, tudo misturado…
É essencial que quem cerca o paciente, já extremamente fragilizado por aquilo que o está incomodando, entenda o problema que o aflige e como pode fazer para ajudar, em caso de uma crise, ou até na inquietação do dia a dia. É o que chamamos de rede de suporte psicossocial.
Um dos erros mais comuns em que membros desta rede incorrem está em pressionar, ainda que com ótima intenção, o paciente a fazer coisas que ele não quer. Ora, se, antes de apresentar um quadro depressivo, o paciente gostava de ir ao cinema, não será insistindo para que assista a um filme que se estará a ajudá-lo.
Não é à toa que dizem que ter um cachorro por perto pode ser um dos melhores tratamentos: o animal estará sempre a postos para um carinho, incondicionalmente, e obviamente não fará qualquer julgamento de seu dono…
O primeiro passo para ajudar alguém que está em crise é entender o que está acontecendo com esta pessoa, e evitar qualquer forma de preconceito. A doença não escolhe status econômico, classe social ou grau de instrução. Ninguém adoece porque quer! Mostrar-se disponível é meio caminho andado, mas deve caber àquele que precisa da ajuda pedi-la. E, todos sabemos, pedir ajuda não é, muitas vezes, tarefa fácil.
“Costumamos dizer que, no pânico, adoecem sempre pelo menos dois – já que um tem de socorrer o outro e buscar auxílio médico, em caso de crise.”
Quem integra a rede de suporte do paciente deve estar atento a sinais de uma piora no quadro emocional ou de que uma crise se instalou. Lembrar a este paciente que a vida não é apenas feita de maus momentos é essencial. Um dos malfeitos da depressão, por exemplo, é a distorção cognitiva que leva o paciente a não se lembrar destes bons momentos, e amplificar os problemas.
Para quem sofre de transtorno de pânico, a rede de suporte é ainda mais comum. O paciente, já com medos, costuma levar um acompanhante às consultas. Costumamos dizer que, no pânico, adoecem sempre pelo menos dois – já que um tem de socorrer o outro e buscar auxílio médico, em caso de crise.
A Psicoeducação do paciente e de quem está junto é fundamental para que a rede de suporte de fato ampare o paciente. Se alguém que tem pânico, por exemplo, já esteve algumas vezes na emergência de hospitais, por achar, no momento de crise, que em verdade estaria tendo um ataque cardíaco, quem compõe a rede de suporte tem de chamá-lo à razão: “Lembra das outras vezes em que corremos para o hospital? Você ainda acha que todos os médicos, que disseram que não há nada de errado com seu coração, estão errados?”
Cabe ressaltar que os membros da rede de suporte psicossocial podem e devem acompanhar o paciente às suas consultas, e até mesmo tirar toda e qualquer dúvida que tenham com o psiquiatra responsável pelo caso.
Como dissemos, além de tratar e prevenir, cabe ao médico, também, a missão de educar e ensinar não apenas ao paciente, mas toda a sua rede sobre os transtornos psiquiátricos e como abordá-los.
Marco Andre Mezzasalma
Médico psiquiatra, doutor em Psiquiatria pelo IPUB-UFRJ e especialista em transtornos de ansiedade
CRM: 66722-6