Burnout em mulheres

Colunas Maria Cristina Ramos Britto

Estude, enquanto eles dormem.
Trabalhe, enquanto eles se divertem.
Lute, enquanto eles descansam.
Acredite na meritocracia.

Essas ideias são repetidas à exaustão (contém ironia) pelos gurus das redes sociais. É a romantização da crença de que apenas o esforço próprio basta para garantir sucesso pessoal e profissional, desconsiderando outros fatores que influenciam nele. E é também o caminho que leva ao surgimento da síndrome de Burnout.

Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é considerada uma doença ocupacional, como resultado de situações de trabalho desgastante, devido a competitividade e pressão por resultado, excesso de responsabilidade e de carga horária, ambiente de trabalho tóxico e conflitos entre chefia e funcionários. Numa cultura que valoriza o resultado, indivíduos são descartados quando não correspondem às expectativas. Por isso, não há preocupação com sua saúde física e mental, mesmo que o ambiente e as condições de trabalho o estejam adoecendo.

Em uma sociedade que incentiva o individualismo, a ambição e o sucesso acima de tudo, muitos sucumbem à pressão, quando seus esforços não são recompensados, porque nunca são considerados suficientes o bastante, para garantir um retorno financeiro, uma promoção ou mesmo reconhecimento pelo trabalho realizado. Então, ao se sentirem cada vez mais pressionadas e temendo o desemprego, as
pessoas adoecem física e mentalmente.

O Burnout atinge mais as mulheres do que os homens pelo acúmulo de funções que elas exercem. Mulheres costumam ter dupla jornada de trabalho, pois, além da atividade profissional, também têm a responsabilidade de cuidar da casa, dos filhos e de familiares doentes ou idosos, muitas vezes sem contar com qualquer ajuda financeira ou apoio emocional. Mulheres são ensinadas, desde cedo, a
desempenhar o papel de cuidadoras, responsáveis pelo bem-estar de todos à volta.

Se precisamos, de forma geral, parar de romantizar uma dedicação exagerada ao trabalho, que leva ao estresse, à ansiedade, à depressão e à perda da qualidade de vida, acabando por prejudicar o desempenho profissional, em relação às mulheres, essa mudança de paradigma é urgente. A sobrecarga que as mulheres suportam, na rua e em casa, é vista como obrigatória por elas mesmas: se eu não fizer, quem fará? E, no ambiente de trabalho, ainda há várias regras de comportamento que são mais rigorosas para as mulheres, em relação à atitude, ao vestuário, à maquiagem, sem mencionar exigências maiores de desempenho e resultados, de provar sua competência, e remuneração inferior à dos homens que exercem a mesma função.

É preciso desacelerar, aprender a aceitar o possível, perceber que nenhum trabalho vale sua saúde física e mental, que não é normal suportar o cansaço e o desânimo, como se fossem inevitáveis, e que, para serem competentes, produtivas e realizadas profissionalmente, as pessoas necessitam de tempo para o autocuidado, para o descanso e para o lazer. E, principalmente, de condições de trabalho dignas.
E, além disso tudo, as mulheres devem ter mais direitos, espaço e reconhecimento profissional e melhor remuneração.

Maria Cristina Ramos Britto
Psicóloga clínica; especialização em terapia cognitivo-comportamental (TCC); formação em terapia do esquema. 
CRP: 05/347533

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