Segundo uma pesquisa do Google, desde o começo da pandemia, houve um aumento do interesse das pessoas pelo autocuidado. Num primeiro momento, isso aconteceu pelo fechamento de salões e clínicas de estética. Enquanto a vida lá fora parecia bagunçada, incerta e cheia de medo, passamos a nos cuidar em casa, para manter a sanidade e preservar nossa autoestima. Fomos desafiadas a repensar nossa qualidade de vida, nossas escolhas, nossos hábitos, inclusive.
A pandemia nos fez refletir sobre muitas coisas, inclusive nossas prioridades. E o cuidado que passamos a ter com nossos corpos se estendeu ao nosso emocional. Aprendemos a priorizar nosso bem-estar, nosso descanso e nossa saúde emocional.
Autocuidado influi diretamente na autoestima, então, hábitos saudáveis e prazerosos aumentam a sensação de bem-estar, o que nos faz repetir esses hábitos, para experimentar de novo a sensação boa, o que se torna rotina. Mas o que exatamente é autocuidado?
Vamos lembrar que a indústria da beleza também se apropriou do termo: tudo pode ser vendido como autocuidado, de cremes antirrugas e para o rejuvenescimento facial a hidratantes. Levantamentos mostram que a busca por intervenções estéticas, de cirurgias plásticas a procedimentos complementares, como rinoplastia e harmonização facial, por exemplo, aumentou muito. Se houve um setor que não só resistiu, mas lucrou com a pandemia, foi a indústria da beleza. E esse é o aspecto negativo da questão: o que deveria ser prazer pode se tornar obrigação e cobrança.
Autocuidado não é uma tendência nem se resume ao consumo, não deve ser banalizado e vendido como solução para tudo. Limitar o cuidado de si mesma ao que é divulgado pelos influencers e comercializado pela indústria da beleza pode provocar ansiedade e frustração. Cirurgias ou produtos não garantem felicidade e, quando não apresentam o resultado desejado, podem causar emoções negativas e problemas psicológicos.
Antes de seguir dicas e sugestões, vale a pena entender o que o autocuidado significa para você. E se
perguntar do que você realmente precisa, porque não há receita única e nem tudo que é oferecido funciona para todos. Trata-se também de ir além do básico, para atender às próprias necessidades. E elas podem ser bem diferentes do que se divulga.
Muitas vezes, autocuidado diz respeito ao que deixar de fazer, o que tirar da agenda, o que diminuir (redes sociais, por exemplo). É tudo que você faz por você e para você e que está relacionado a suas necessidades e seus desejos. E inclui uma rotina de hábitos saudáveis que melhoram sua saúde física, emocional e espiritual e promovem bem-estar.
Estar em conexão com você mesma, validar suas emoções, ouvir seu corpo e respeitar sua fome, priorizar-se já é autocuidado. Autocuidado também é interno: cuidar da alma e do espírito, para alcançar um bem-estar subjetivo. E não precisar de cirurgias plásticas ou procedimentos estéticos. Só para lembrar: a indústria da beleza cuida do exterior; a terapia do interior. E as duas se complementam.
Maria Cristina Ramos Britto
Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental (TCC), palestrante e escritora.
CRP: 05/347533