Ansiedade de Fim de Ano: Como as Expectativas, Encontros Familiares e Metas Não Cumpridas Afetam a Saúde Mental

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Confira algumas estratégias para enfrentar a ansiedade durante as festas de fim de ano

Por Sem Transtorno

O fim de ano, para muitas pessoas, é um período de alegria e celebração, mas também pode ser um momento de grande ansiedade e angústia, especialmente para aqueles que já lidam com questões emocionais como a ansiedade. As festas de Natal e Ano Novo, com suas expectativas de felicidade, encontros familiares e novos começos, podem ser um gatilho para sentimentos de inadequação, frustração e até tristeza. E para quem já enfrenta desafios relacionados à saúde mental, esse período pode ser ainda mais difícil de lidar.

O peso das expectativas de fim de ano

Dezembro é o mês que marca o fim de um ciclo, o fechamento de um ano, e muitas pessoas sentem-se pressionadas a fazer um balanço do que conseguiram ou não realizar. Metas não cumpridas, desejos não atendidos, e o peso de expectativas que parecem não se concretizar podem gerar um grande mal-estar. A psicóloga Rosanna Mannarino explica: “O final de ano traz uma cobrança implícita para que tudo seja perfeito: a celebração das festas, a aparência nas fotos, a performance social e até as promessas de um novo começo. Para quem tem um histórico de ansiedade, esse momento de ‘reflexão’ pode se transformar em uma pressão emocional, trazendo um ciclo de autocrítica e sofrimento.”

Encontros familiares: Um desafio emocional

Além das questões relacionadas às metas e expectativas, o fim de ano também é marcado por encontros familiares, que podem ser carregados de tensões emocionais. Para muitas pessoas, a reunião em torno da mesa de Natal ou Ano Novo traz à tona relações complicadas e sentimentos de desconforto. A participante Andreia*, que participa do grupo de apoio Sem Transtorno, compartilha sua experiência: “Há alguns anos eu tenho me sentido triste quanto ao fim de ano. Eu sempre gostei de celebrar em família, mas o passar do tempo me fez perceber o quanto algumas dinâmicas familiares se tornaram tóxicas e ficar perto foi ficando cada vez mais doloroso. Sempre adorei esse período do ano, mas sinto que preciso de uma nova forma de celebrar, mais saudável para mim.”

Esse tipo de experiência não é algo isolado. A pressão de estar bem e de criar um ambiente familiar perfeito esbarra na realidade de relações conturbadas, o que pode aumentar a sensação de tristeza e solidão. Marisa*, também do grupo Sem Transtorno, descreve sua situação com uma visão ainda mais melancólica: “O Natal ficou difícil para mim porque era uma festa tão linda com minha família. Vários já partiram, outros seguiram caminhos distantes e agora somos somente eu, meus filhos e meu pai. Não que seja ruim, mas minhas festas eram tão boas que queria que meus filhos também tivessem isso. Fico muito triste”, lamenta.

A pressão e o “ultimato” de dezembro

A pressão para ser feliz e viver a magia do Natal e do Ano Novo é sentida por muitos, especialmente quando a vida parece não corresponder à ideia de “felicidade perfeita” que a mídia e as redes sociais impõem. “É tanta expectativa de que algo deve ser melhor no ano que vem, é pressão social para as festas, verão, carnaval, é sensação de despedida. Acho péssimo! Engraçado que quando criança era tão mágico, mas aos poucos foi virando esse peso nas costas. Dezembro parece que a vida te dá aquele ultimato; eu me sinto muito culpada por não conseguir fazer nada… é terrível”, compartilha a participante Aline*.

Esses sentimentos de culpa e ansiedade são comuns em muitas pessoas que, ao se depararem com a expectativa de felicidade e renovação, se sentem incapazes de corresponder às exigências, criando um ciclo de angústia. Além disso, o próprio ritmo acelerado das festas, com preparativos, gastos e obrigações, muitas vezes não deixa espaço para uma reflexão tranquila sobre os desejos genuínos ou a busca por um significado mais profundo dessa época.

Como lidar com a ansiedade no fim de ano: Orientações de uma psicóloga

Para ajudar a enfrentar esse período de tensão e ansiedade, a psicóloga Rosanna Mannarino sugere algumas estratégias importantes para lidar melhor com as emoções nesse fim de ano:

  1. Respeite seus limites emocionais: “É importante reconhecer os próprios limites e não se obrigar a estar sempre no clima de festa ou a cumprir expectativas alheias. Se precisar se afastar de um evento ou recusar um convite, tudo bem. Sua saúde mental vem em primeiro lugar.”
  2. Redefina as expectativas: “Em vez de se culpar por metas não cumpridas ou por um ‘novo começo perfeito’ no ano seguinte, tente focar nas pequenas conquistas e nas coisas boas que aconteceram ao longo do ano. Cada passo deve ser valorizado e celebrado.”
  3. Reflita sobre as relações familiares: “Se os encontros familiares geram desconforto, tente encontrar formas de celebrar que não envolvam pressão. Busque ressignificar o momento, seja com uma celebração mais íntima ou com novos rituais que tragam mais paz.”
  4. Pratique a gratidão: “Em tempos de incerteza e ansiedade, um bom exercício pode ser focar na gratidão. Anote três coisas pelas quais você é grato a cada dia. Isso ajuda a mudar o foco daquilo que está fora de controle para o que você já conquistou.”
  5. Cuide da sua saúde mental: “O autocuidado é essencial durante esse período. Se sentir que está sobrecarregado, procure ajuda profissional. Terapia, grupos de apoio ou até mesmo momentos de relaxamento podem ser fundamentais para aliviar o estresse.
  6. Seja assertivo e coloque limites: A pressão interna e externa no fim de ano pode ser esmagadora, como se o mundo fosse acabar no dia 31 de dezembro. Procure ser assertivo, estabelecer limites e comunicar-se de forma clara e sem agressividade. Isso permite que você seja responsável pelo seu próprio processo de escolhas, dizendo o que sente e pensa sem medo.

Com essas orientações, é possível viver o fim de ano com mais leveza e menos culpa, acolhendo as imperfeições e priorizando o seu bem-estar emocional.

*Os nomes são fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

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