Por que o Sem Transtorno não apoia o Setembro Amarelo?

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Todos os anos, principalmente durante o mês de setembro, recebo muitas mensagens e sugestões para publicações relacionadas ao Setembro Amarelo. No entanto, na maioria das vezes prefiro não explicar meus motivos para não aderir à campanha. 

Pensando melhor, entendi que é importante que eu também compartilhe meu ponto de vista, pois estou aqui à frente do Sem Transtorno para promover a conscientização sobre saúde mental, não é? Então vamos à minha argumentação.

Embora seja uma iniciativa valiosa, destinada a aumentar a conscientização sobre a prevenção do suicídio e a promoção da saúde mental, a campanha Setembro Amarelo também apresenta alguns pontos negativos que merecem ser considerados. Uma das minhas principais preocupações é que, assim como provoca gatilhos emocionais em mim, também pode afetar outras pessoas mais sensíveis que acompanham o meu trabalho. A campanha aborda um tópico extremamente delicado, e algumas pessoas podem ter experiências pessoais relacionadas ao tema ou a problemas de saúde mental.

Alguns dos gatilhos que podem ser desencadeados incluem:

1. Lembranças traumáticas: Pessoas que perderam entes queridos para o suicídio ou que tiveram experiências traumáticas relacionadas à saúde mental podem ser afetadas emocionalmente pela campanha.

2. Experiências pessoais: Indivíduos que lutam ou lutaram contra problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade ou ideações suicidas, podem encontrar a discussão sobre o suicídio perturbadora.

3. Sensibilidade emocional: Mesmo aqueles que não têm experiências diretas podem ser sensíveis ao tema do suicídio devido à sua natureza emocionalmente carregada.

Outros motivos que me fazem não divulgar a campanha Setembro Amarelo: 

1. Equívoco na abordagem: O Setembro Amarelo muitas vezes se concentra em falar sobre o problema do suicídio, mas não enfatiza o suficiente a importância da promoção da saúde mental de maneira geral, como a prevenção de transtornos mentais, o acesso a tratamentos e o apoio emocional. 

2. Estigmatização: Em alguns casos, a campanha pode inadvertidamente estigmatizar as pessoas que sofrem de problemas de saúde mental ao destacar a questão do suicídio de forma isolada. Isso pode fazer com que as pessoas se sintam mais desconfortáveis em buscar ajuda, em vez de se sentirem apoiadas.

3. Ênfase excessiva na mídia: A campanha pode ser, em alguns casos, excessivamente influenciada pela mídia, resultando em uma abordagem sensacionalista que pode não ser benéfica para a discussão responsável e sensível do tema.

4. Falta de recursos: O Setembro Amarelo destaca a conscientização, mas nem sempre leva em consideração a necessidade de recursos tangíveis para apoiar as pessoas em risco. A falta de financiamento para serviços de saúde mental pode limitar a eficácia da campanha.

5. Foco na crise, não na prevenção a longo prazo: Embora a campanha seja importante para criar conscientização sobre o risco iminente do suicídio, ela pode não enfatizar o suficiente a importância da prevenção a longo prazo, como o desenvolvimento de resiliência e habilidades de enfrentamento desde a infância.

6. Risco do aumento de comportamentos suicidas: Existem preocupações legítimas de que, ao ampliar demais o tema do suicídio sem cuidados adequados na abordagem e na cobertura da mídia, a campanha possa inadvertidamente incentivar pensamentos e comportamentos suicidas em algumas pessoas. Isso ocorre porque a exposição a histórias de suicídio pode normalizar o comportamento e criar um “efeito de contágio” ou “efeito de imitação”, levando outros a considerarem o mesmo caminho.

É muito importante que a campanha Setembro Amarelo seja realizada com sensibilidade e responsabilidade. Isso inclui a divulgação de informações sobre onde as pessoas podem procurar apoio emocional e ajuda profissional se necessário, bem como a criação de espaços seguros para discussões sobre o tema (como o grupo de apoio Sem Transtorno, por exemplo).

Campanhas de conscientização, como o Setembro Amarelo, deveriam considerar diretrizes éticas para a divulgação de informações sobre o suicídio. Isso inclui:

1. Evitar detalhes sensacionalistas: As histórias de suicídio não devem ser relatadas de maneira sensacionalista ou romântica, para não atrair a atenção indesejada.

2. Fornecer informações corretas e úteis: As campanhas devem incluir informações sobre como buscar ajuda, como identificar sinais de risco e como apoiar aqueles que estão em necessidade.

3. Destacar histórias de recuperação: Além de relatar histórias de perda, é importante destacar histórias de recuperação e superação para dar esperança às pessoas que estão lutando com problemas de saúde mental.

4. Reforçar a importância do diálogo: Incentivar o diálogo aberto sobre saúde mental e a importância de buscar ajuda quando necessário.

5. Monitoramento da mídia: A mídia deve ter cuidado ao relatar casos de suicídio e seguir diretrizes de reportagem responsável.

6. Acesso a recursos: Certificar-se de que as pessoas que precisam de apoio tenham acesso a recursos de saúde mental.

Em resumo, a conscientização sobre o suicídio é necessária, mas deve ser conduzida com responsabilidade para evitar possíveis efeitos contraproducentes. O equilíbrio entre destacar o problema e promover a prevenção responsável é fundamental para o sucesso de campanhas de conscientização desse tipo. Isso inclui a divulgação de informações sobre onde as pessoas podem procurar apoio emocional e ajuda profissional quando necessário, bem como a criação de espaços seguros para discussões sobre o tema, como o próprio grupo de apoio Sem Transtorno, por exemplo. 

O Setembro Amarelo é uma campanha importante, que coloca em destaque uma questão crítica de saúde pública. No entanto, deve levar em conta os pontos negativos para garantir que a conscientização sobre o suicídio seja acompanhada de ações concretas, que promovam uma abordagem menos “marqueteira” e mais eficaz para a saúde mental.

Karen Terahata – Fundadora do Sem Transtorno

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