Por que algumas pessoas não “acertam” a medicação ou demoram a acertar?

Colunas Marco Andre Mezzasalma Medicamentos Psiquiatria

Como existem diversas opções de medicamentos na psiquiatria, e como cada caso é único e individual, nem sempre o psiquiatra “acerta” na primeira (ou na segunda, terceira…) tentativa. Uma série de fatores influenciam a escolha de um medicamento: diagnóstico principal, diagnósticos concomitantes, doenças clínicas e uso de outros medicamentos, escolha do paciente, apenas para citar alguns.

Como se não bastasse isso, ainda temos outra variável muito importante que é o efeito colateral que cada pessoa pode ter para uma dada medicação; todo mundo que já leu uma bula de medicamento, ou procurou na internet, já encontrou diversos efeitos colaterais, muitas vezes até antagônicos, que podem ser provocados por um dado medicamento: sonolência e insônia, constipação intestinal e diarréia, aumento ou diminuição do apetite, e assim por diante. Não é possível prever qual efeito colateral uma pessoa vai apresentar antes de fazer uso da medicação, e isso também dificulta a adesão ao tratamento e a resposta terapêutica. As vezes o efeito colateral é leve ou tolerável, ou até mesmo dura uma ou duas semanas, e depois o mesmo desaparece; por outro lado pode ser muito forte ou incapacitante, ou não melhora com o tempo. 

O uso de outros medicamentos e a presença de outras doenças clínicas (como hipertensão arterial, diabetes, insuficiência renal, por exemplo) também pode limitar ou afetar a escolha de uma medicação para um paciente, seja por conta do efeito colateral que a medicação possa provocar, seja pela possibilidade de interações medicamentosas no organismo do paciente. 

E mesmo que a medicação prescrita não provoque efeitos colaterais significativos, nem tenha interações medicamentosas importantes com os demais medicamentos já utilizados pelo paciente, a dose necessária para a melhora dos sintomas pode ser maior do que a inicial e precisamos de tempo para ajustar essa dose ( e alguns pacientes não conseguem esperar por esse tempo); Além disso mesmo com a dose certa e pelo tempo necessário, um dado medicamento pode não melhorar o quadro clínico do paciente o suficiente para que justifique a continuidade do seu uso, e aí precisamos tentar outra medicação.

Já existem alguns testes psicofarmacogenéticos que podem ser muito úteis para o psiquiatra, pois estes testes apesar de não dizerem “qual o melhor remédio para este paciente”, orientam a escolha de uma ou outra medicação baseado no perfil de metabolismo de cada medicamento que o paciente tem. Traduzindo para o português: alguns pacientes metabolizam um certo medicamento com velocidade normal, rápida, muito rápida, ou lenta ou muito lenta. Assim sendo, um paciente que metabolize um medicamento X com velocidade lenta pode ter “o dobro ou mais de atividade” do que o esperado para aquela dose em um indivíduo “padrão”; já o metabolizador rápido precisa de doses maiores de uma substância para que a mesma tenha o “efeito esperado padrão”.

Estes são apenas alguns exemplos que ilustram como é difícil “acertar” no tratamento psiquiátrico de uma pessoa.

Marco Andre Mezzasalma
Médico psiquiatra, doutor em Psiquiatria pelo IPUB-UFRJ e especialista em transtornos de ansiedade
CRM: 66722-6

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