Dizem que feito é melhor que perfeito. Acredito que o correto é: bem-feito é melhor que perfeito. É tão bom terminar um trabalho e sentir orgulho do que se conseguiu realizar, naqueles momentos e circunstâncias. O problema começa quando, apesar de todo esforço empenhado e dos bons resultados obtidos, temos a incômoda sensação de que poderíamos ter feito mais. O perfeccionismo é um comportamento identificado pelo desejo de realizar tarefas de modo perfeito, sem erros ou resultados considerados pouco satisfatórios, dentro de padrões irreais de excelência autoimpostos.
Por vivermos numa cultura que incentiva a competição e a busca por mostrar resultados, podemos criar padrões muito altos e rígidos para nós mesmos, e nos submetemos a critérios de avaliação rigorosos demais sobre o que é preciso para ser considerada uma pessoa bem-sucedida. E o que começa como busca por um bom desempenho, atenção aos detalhes e foco nos objetivos, acaba levando ao que é definido pela psicologia como perfeccionismo.
O perfeccionismo torna-se problema quando desrespeitamos nossos limites, para alcançar objetivos impossíveis; quando pensamos que, se não for possível cumprirmos uma tarefa à perfeição, do que adianta tentar? (aí começa o ciclo da procrastinação); quando nos comparamos com frequência a outras pessoas, nos tornamos hipercríticos e ficamos paralisados; quando estabelecemos padrões rígidos e elevados, em relação ao tempo para concluir tarefas, à quantidade dos elogios recebidos, ao tamanho e ao impacto dos resultados; quando nos sentimos insatisfeitos em relação ao trabalho e isso se reflete na vida pessoal.
Aos poucos, vamos ficando cada vez mais cansados, estressados, irritados e podemos adoecer. Dores de cabeça, insônia, problemas digestivos e tensão muscular são alguns sinais que o corpo dá de que estamos nos exigindo demais e desrespeitando nossos limites. Em relação ao estado mental e emocional, pessoas perfeccionistas podem desenvolvem ansiedade, depressão e transtornos alimentares.
A perfeição é só uma ideia, por ser algo impossível de ser alcançado. Se a pessoa perde o controle sobre seus próprios padrões de exigência e desempenho e a busca por sucesso e reconhecimento passa a controlar sua vida, uma psicóloga pode ajudá-la a reencontrar o caminho do bem-estar e da realização, sem sofrimento.
Maria Cristina Ramos Britto
Psicóloga clínica; especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC); formação em terapia do esquema.
CRP: 05/347533