APERJ reúne especialistas para debater temas inovadores, como uso de canabidiol e psicodélicos na psiquiatria
Por Karen Terahata, Sem Transtorno
A Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) realizou nos dias 9 e 10 de agosto a XXVI Jornada de Psiquiatria, um evento que reuniu renomados especialistas e profissionais da área de saúde mental no Teatro Fashion Mall, em São Conrado. Com uma programação rica e diversificada, o encontro proporcionou discussões sobre temas emergentes e desafiadores na prática psiquiátrica, como o uso de canabidiol, psicodélicos, espiritualidade, e o impacto do estilo de vida na saúde mental.
Debates inovadores e baseados em evidências
Sob a presidência do Dr. Marcos Gebara, a jornada foi marcada pela troca de conhecimentos e experiências, sempre com foco em práticas baseadas em evidências. “Este evento é uma oportunidade única de aprofundar conhecimentos e debater assuntos cruciais com alguns dos maiores especialistas da área”, afirmou.
Um dos destaques do evento foi a palestra do psiquiatra José Alexandre Crippa, que abordou o uso terapêutico do canabidiol (CBD) na psiquiatria. Crippa enfatizou que, embora existam estudos promissores, ainda não há indicações para o uso do CBD em transtornos psiquiátricos, especialmente em crianças e adolescentes. “O CBD é um candidato promissor para diversas indicações terapêuticas, mas ainda estamos longe de ter evidências suficientes para recomendá-lo”, alertou Crippa.
A espiritualidade também foi tema de destaque, com a apresentação do Dr. Alexander Moreira, que abordou a importância de considerar a religiosidade e espiritualidade dos pacientes no tratamento psiquiátrico. O médico destacou estudos que demonstram benefícios como menor mortalidade e maior resiliência emocional entre aqueles que participam de grupos religiosos. Ele também apresentou abordagens para integrar esses aspectos na prática clínica, alinhadas com as diretrizes da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA).
Simpósios e mesas-redondas: saúde mental em foco
O evento contou ainda com simpósios e mesas-redondas que exploraram diferentes aspectos da saúde mental. No simpósio promovido pela Lundbeck, a médica Juliana Banckovisk e a farmacêutica Michelle Rocha abordaram o tratamento farmacológico da depressão, discutindo estigma, controvérsias e a qualidade dos medicamentos disponíveis.
A mesa-redonda sobre “Estilo de Vida e Saúde Mental”, com a participação da endocrinologista Isabela Bussade e dos psiquiatras José Carlos Apolinário e Nilo Torturella, enfatizou a importância de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, exercício regular e sono de qualidade, no manejo de transtornos mentais.
Em outro simpósio, promovido pela Janssen, o Dr. Luiz Dieckmann discutiu a remissão em pacientes com depressão resistente. Já Dr. Táki Cordás trouxe em sua apresentação reflexões sobre a Psiquiatria Intervencionista, um campo que envolve técnicas específicas para tratar transtornos mentais graves. Apesar do entusiasmo com esses procedimentos, Cordás expressou ceticismo quanto à criação da nova subespecialidade, defendendo uma formação mais robusta na residência médica.
A aula magna do Dr. Talvane de Moraes foi um momento de reflexão sobre a evolução da psiquiatria e o estigma associado aos transtornos mentais. Com cerca de cinco décadas de experiência em psiquiatria, ele destacou a importância da psicofarmacologia moderna como uma revolução na especialidade e reforçou a necessidade de uma anamnese psiquiátrica cuidadosa e aprofundada.
O simpósio promovido pela Clínica Jorge Jaber trouxe à tona questões sobre autismo e TDAH na atualidade. Os palestrantes, Dr. Daniel Segenreich e Dr. Francisco Assumpção, alertaram para o excesso de diagnósticos e a necessidade de maior rigor na avaliação dos pacientes.
Encerramento com reflexões sobre longevidade e bem-estar
O evento foi encerrado com uma apresentação empolgante da Dra. Carmita Abdo, que explorou a relação entre longevidade, amor, paixão e sexo, trazendo insights valiosos e uma abordagem descontraída para fechar a jornada com chave de ouro.
A XXVI Jornada de Psiquiatria da APERJ foi, sem dúvida, um marco importante para a psiquiatria no Brasil, promovendo debates relevantes e atualizações fundamentais para a prática clínica e a formação contínua dos profissionais da saúde mental.