Artesanato para o bem-estar

Ansiedade Depressão Mulher Notícias

Andreza Coelho encontrou novos propósitos ao criar mandalas como forma de enfrentar a ansiedade e a depressão

Durante uma das reuniões online do grupo de apoio Sem Transtorno, um conjunto vibrante de mandalas que adornava a parede atrás de Andreza Coelho chamaram a atenção. A conversa sobre a beleza e o valor dessas criações iluminou seus olhos, revelando a paixão e o significado profundo que o artesanato representa em sua vida. “Naquela reunião em que as pessoas notaram as mandalas na minha parede e eu as olhei novamente, isso me despertou muita alegria e conforto”.

O incentivo do grupo destaca a importância de uma rede de apoio com escuta ativa e amorosa para o processo de recuperação. Após ficar desempregada em 2023, Andreza descobriu nas mandalas uma maneira de superar as dificuldades e se reconectar com sua arte, e a produção dessas mandalas tem sido uma forma de ressignificar seu caminho durante um período especialmente desafiador para ela. Suas criações não apenas adornam paredes, mas também irradiam uma mensagem de esperança e autocuidado.

Em entrevista para o Sem Transtorno, Andreza compartilha mais sobre essa vivência inspiradora e o impacto de suas obras.

Andreza, como você começou a fazer as mandalas? Há alguma história ou momento especial que iniciou seu interesse por essa arte?
Eu sou uma pessoa muito curiosa e adoro aprender coisas novas. No final de 2019, comecei a aprender crochê e, ao longo de 2020, com a quarentena da Covid, usei esse tempo para explorar também outros artesanatos, como bordado, pintura e tricô. Isso foi muito bom para mim e supriu um desejo antigo de aprender essas técnicas. A história com as mandalas começou em 2021, quando, ainda sob restrições da pandemia, fui visitar minha família e vi um anúncio na Caixa Cultural sobre um workshop online de introdução às mandalas de lã. Achei que seria uma ótima atividade para fazer com meu irmão mais novo. Participamos do workshop, eu, meu irmão e uma amiga. E embora meu irmão, à princípio, não tenha gostado, eu e minha amiga adoramos. Aprendi um ponto básico de mandalas e já me apaixonei. Depois disso, descobri o projeto Medite Criando no Instagram, que utiliza as mandalas de forma terapêutica e espiritual. Fiquei encantada, pois aprendi novas técnicas e aprofundei meu conhecimento sobre a simbologia e a aplicabilidade terapêutica das mandalas. Em 2022, consegui comprar o curso completo de mandalas e me aprofundei nessa arte.

As mandalas na parede de Andreza chamaram a atenção do grupo (Foto: Arquivo pessoal)

O que são as mandalas para você? Qual é o significado por trás delas?
As mandalas são uma conexão profunda comigo mesma, uma forma de manifestar meu potencial criativo. Elas são uma das minhas principais formas de expressão. Em cada mandala e em todo artesanato que produzo, minha principal mensagem é o amor e o cuidado. Quero que quem receba uma mandala minha sinta que foi feita com carinho, e que é uma expressão das minhas melhores intenções. Assim como uma mensagem de aniversário que transmite felicidades, amor, paz e sucesso, a mandala simboliza tudo isso através das cores e formas que escolho para compor o trabalho.

Além disso, algo muito importante para mim na construção de todas as minhas manualidades é promover uma consciência de consumo. Sou uma grande adepta do slow fashion, não apenas por ser um movimento que considera o impacto da produção e descarte de objetos no planeta, mas também porque traz uma autocrítica necessária ao ato desenfreado de comprar sem propósito. Muitas vezes não sabemos de onde vêm os produtos nem para onde vão, nem quanto esforço foi necessário para que algo chegue até nós. A produção artesanal nos permite conhecer o que estamos comprando, quem é a pessoa que fez e valorizar o trabalho desse indivíduo em vez de apoiar um sistema comercial que explora o planeta em nome do lucro.

Poderia falar um pouco sobre sua história com a ansiedade e a depressão? Você considera a confecção de mandalas uma atividade terapêutica?
Embora tenha recebido um diagnóstico recente de depressão e ansiedade, tenho enfrentado essas condições ao longo de toda a minha vida, muitas vezes em silêncio e sozinha. Ao longo dos anos, desenvolvi minhas próprias estratégias para lidar com períodos depressivos. Para mim, as mandalas são mais do que uma forma de meditação; eu crio as minhas pensando nas cores e formas que vão vibrar e me lembrar da energia que preciso para um momento específico ou para trazer uma atmosfera positiva a um ambiente. O mesmo se aplica quando presenteio alguém com uma mandala. Geralmente, crio até uma Mandala de Aniversário, que é um dos meus rituais para celebrar um novo ciclo de vida.

“Estou aqui no meu tratamento, evolui bastante e as mandalas são a minha prática de autocuidado e o meu lembrete das coisas boas da vida.” (Andreza Coelho)

Em 2023, eu fiquei desempregada, o que gerou uma ansiedade relacionada ao financeiro muito grande, fora a desilusão com todas as promessas não cumpridas pela pessoa que me demitiu. O ano foi passando e eu fui ficando cada vez mais triste, desesperançosa e apática, as coisas perderam o sabor, o significado. Consegui um trabalho que acabou por deteriorar ainda mais minha saúde mental devido a comportamentos tóxicos de alguns colegas. Foi então que eu cheguei em um limite e procurei ajuda psiquiátrica e psicológica. Estou aqui no meu tratamento, evolui bastante e as mandalas são a minha prática de autocuidado e o meu lembrete das coisas boas da vida.

Quais são os materiais e técnicas que você utiliza na criação das mandalas? Existe algum processo especial que você segue?
Eu sigo a técnica das mandalas de lã, que tem origem em práticas manuais de algumas sociedades indígenas norte-americanas. Em algumas culturas, os pais criavam uma mandala para seu bebê assim que ele nascia, com todos os desejos que tinham para a criança. Eles faziam uma por ano, até a criança ter idade para aprender a técnica e criar suas próprias mandalas. Com o tempo, essa técnica se espalhou e aprimorou, utilizando palitos de bambu e lã.

Meu processo de criação é simples: quando vou criar livremente, gosto de pensar no que quero ou preciso naquele momento, então faço um esboço das formas e cores que simbolizam isso. Em seguida, separo o material e me sento com calma para trabalhar, buscando me concentrar em cada linha e harmonizar o trabalho. É uma forma de meditação que me acalma bastante. Às vezes, sigo videoaulas para aprender novos formatos de mandalas e utilizo as cores que considero mais apropriadas para mim. É uma grande experimentação.

Você tem algum tipo de inspiração ou influência específica para fazer suas mandalas?
Certamente, minha maior inspiração é a Talita do Medite Criando, com quem aperfeiçoei e expandi minha técnica de mandalas. Admiro muito a maneira como ela ensina as mandalas não apenas como artesanato, mas como uma prática de cuidado e meditação. Isso foi extremamente importante para mim.

Como você escolhe as cores e padrões para cada mandala? Existe algum significado por trás das cores que você utiliza?
Sim, cada cor e forma nas mandalas carrega um significado. Eu sigo a Psicologia das Cores, que estuda a influência das cores e suas combinações em nosso estado emocional. Além disso, eu mesma atribuo significados particulares a cada cor, de acordo com o que cada uma me faz sentir. As formas também têm símbolos milenares que tocam nosso inconsciente coletivo. O círculo, por exemplo, representa a ideia de divino e perfeição, assim como o eterno retorno, indicando que tudo volta. Triângulos podem sugerir conexão ou direcionamento; pense nas pirâmides, que têm esse formato por serem pensadas como uma forma de ascensão ao divino. Combinando esses elementos, crio a mandala de acordo com a mensagem geral que quero transmitir. Se sinto que preciso de mais positividade, farei uma mandala com amarelo e formas suaves, e assim por diante.

Existe algum tipo de mandala preferido que você goste de criar?
Gosto de todas as mandalas que aprendi a fazer, mas as mandalas mais bonitas para mim são aquelas com estrelas e pontos mais abertos. Acho que elas ficam muito bonitas. Também gosto das mandalas que parecem flores, pois trazem uma grande leveza para o ambiente.

O que você espera que as pessoas sintam ou experimentem ao adquirir e contemplar suas mandalas?
Espero que sintam muitas coisas boas. Que sintam curiosidade ao olhar para elas e que, ao observar mais detalhadamente, se permitam reagir às cores e formas. Acredito que é um ótimo exercício de reflexão. Também espero que as mandalas tragam bem-estar para todos que as observarem.

Além da beleza estética, você acredita que as mandalas têm algum outro impacto na vida das pessoas que as observam?
No mínimo, posso dizer que uma mandala sempre instiga. Nunca conheci alguém que olhou para uma sem parar um momento para investigar mais com os olhos. E é justamente esse estímulo que faz tão bem. Elas provocam um movimento dentro de nós.

Acredito que as mandalas são muito mais do que decoração e beleza; elas carregam significado e simbolismo. Por isso, creio que elas também enviam mensagens ao nosso consciente e inconsciente sobre coisas que precisamos lembrar. Elas provocam reações e sensações quando as observamos. Adoro acordar e olhar para elas de manhã, ou sentar e admirar. Isso me faz muito bem.

Para adquirir as mandalas criadas pela Andreza, você pode visitar o Instagram da Coelho Crochê em https://www.instagram.com/crochecoelho/ ou entrar em contato pelo número de WhatsApp 21 97266-2928.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *