Estreia do projeto “Janelas para a Psiquiatria” reúne especialistas para discutir o TDAH ao longo da vida

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Evento da APERJ tem início com conferência do psiquiatra Paulo Mattos e aprofunda a discussão sobre o transtorno em crianças, adolescentes e adultos

Por Sem Transtorno/Fotos: Karen Terahata

A Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) deu início, no último sábado (17), no Teatro Fashion Mall, em São Conrado, ao projeto “Janelas para a Psiquiatria”, uma série de encontros presenciais voltados à atualização científica e à ampliação do diálogo sobre temas de interesse público na área da saúde mental.

O evento de abertura teve como tema “TDAH na infância, na adolescência e no adulto”, apresentado pelo médico psiquiatra Paulo Mattos, ex-professor da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR). Mattos é um dos principais nomes da psiquiatria brasileira e uma das maiores autoridades mundiais em Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Diagnóstico exige avaliação criteriosa

Um dos pontos centrais da apresentação de Paulo Mattos foi o alto número de diagnósticos equivocados relacionados ao TDAH. O fato ecoa especialmente entre adultos que estão recebendo diagnósticos tardiamente, muitas vezes após anos de críticas, fracassos escolares ou profissionais, dificuldades nos relacionamentos e autoestima abalada.

De acordo com Mattos, das dez maiores universidades do mundo que oferecem acomodação para pessoas com TDAH, quatro recomendam e duas exigem a realização de uma avaliação neuropsicológica como parte do processo de diagnóstico.

O psiquiatra destacou que nenhum teste isolado é capaz de definir o transtorno. “O exame não é o teste. Os testes fazem parte da avaliação neuropsicológica”, explicou. Essa avaliação inclui, além dos testes, entrevistas clínicas e uma observação atenta do comportamento do paciente.

Paulo Mattos destaca os desafios do diagnóstico preciso do TDAH

TAG é o campeão dos falsos diagnósticos

Mattos também foi claro ao afirmar que ter sintomas não significa ter o transtorno: “Se a desatenção ocorre só ao ler ou estudar, mas a pessoa presta atenção ao conversar ou assistir aula, então a desatenção está restrita à leitura, e isso não é TDAH. Todos temos algum traço de TDAH, mas nem todos preenchemos os critérios para receber o diagnóstico.”

“Hoje, todo mundo acha que tem TDAH. Mas 90% dos pacientes que me procuram achando ter o transtorno, na verdade, têm TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), cujos critérios também incluem desatenção.” Segundo ele, o TAG é o campeão dos falsos diagnósticos, seguido pela dislexia. Dois transtornos com sintomas sobrepostos, como a distração e a dificuldade de manter a atenção.

“Por que a dislexia é o vice-campeão entre os diagnósticos errados, alguém sabe?”, perguntou Mattos à plateia. Em seguida, ele mesmo responde, denunciando uma grave lacuna na formação médica: “Nenhuma faculdade de medicina do Brasil, exceto a UFRJ, oferece qualquer aula sobre dislexia. Nenhuma, entre todas as que eu consultei. Estamos formando médicos que nunca ouviram falar sobre o transtorno, que não sabem identificá-lo. Como essas pessoas vão conseguir diagnosticar dislexia corretamente?”, questiona.

Debatedores ampliam a visão clínica e humana

O curso contou ainda com a participação dos debatedores Daniel Segenreich, psiquiatra e vice-presidente da ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção), e da professora e psiquiatra Maria Antônia Serra-Pinheiro, reconhecida por sua atuação na área.

Durante toda a manhã, o público teve acesso a conteúdo científico de alto nível, mas também à experiência de profissionais comprometidos com a transformação da prática clínica e com o bem-estar dos pacientes.

Ao final do encontro, foi aberto um espaço para perguntas da plateia e debate entre os especialistas, promovendo uma troca de experiências e esclarecendo dúvidas sobre diagnóstico, tratamento e convivência com o TDAH ao longo da vida.

O que esperar das próximas edições?

Com a proposta de abrir janelas simbólicas para temas urgentes da psiquiatria, o projeto da APERJ promete trazer reflexões valiosas em suas próximas edições.

Entre os temas que serão abordados estão:

  • Autismo em todas as fases da vida
  • Regulação e prescrição de produtos à base de cannabis
  • Insatisfação com a própria imagem e os impactos da busca por padrões estéticos inalcançáveis

A proposta dos encontros é oferecer um ambiente acolhedor, com conteúdo de qualidade e interação com o público, sempre aos sábados pela manhã, no mesmo local, o teatro do Shopping Fashion Mall.

Se você tem interesse em participar de eventos como este, acompanhe o calendário da APERJ e siga o Sem Transtorno nas redes sociais para não perder os próximos encontros, entrevistas e novidades sobre saúde mental.

“Estar presente em eventos como esse é fortalecer pontes entre ciência, acolhimento e transformação.” Karen Terahata, jornalista e fundadora do projeto Sem Transtorno.

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